O primeiro instrumento de tortura ao qual submeteram Jesus foi uma coroa de espinhos. Múltiplos espinhos que lhe cravaram o crânio. Como se os homens estivessem a dizer-lhe:
– Não queremos as Tuas idéias mirabolantes de reino dos céus. Nós estamos na terra; já chega de alucinações e fantasias. Queremos ficar aqui mesmo.
Quando esbofeteavam atingindo a sua boca era como se estivessem a impor-lhe silêncio dizendo-lhe:
– Não queremos Tuas bem–aventuranças, nem tuas bênçãos; nem de tuas histórias de carochinhas. Já chega de tantas palavras que nada trazem de concreto para esta vida. Não acreditamos em tuas promessas de riquezas futuras, de glórias após a morte. Somos suficientemente adultos para sermos iludidos. Não precisamos de sonhos, queremos realidade.
Ao cravarem as suas mãos estendidas na cruz, estavam a dizer-lhe:
– Não precisamos de Tuas obras. Basta de demagogias, procedentes de Belzebu. Já chega de embustes. Necessitamos de realidades, da ciência. Mas foram aquelas mãos que tocaram os enfermos e eles foram curados, a filha de Jairo ressuscitada pelo toque sagrado de Seus dedos. Foram elas que multiplicaram os pães para alimentar os cinco mil homens e igualmente se estenderam para salvar Pedro quando naufragava no abismo do mar; que tocaram os olhos dos cegos e os fez ver.
Depois cravaram-lhe os pés no mesmo madeiro deixando-lhe um recado:
– Não queremos Te seguir, nem caminhar nos Teus passos. Só os idiotas e ignorantes se deixarão persuadir por essa história de que: “Quem me segue não andará em trevas mas terá a luz da vida”. Deixe-nos ficar aqui mesmo. Se isto aqui são trevas preferimos continuar nelas. Não queremos ser Teus discípulos nem seguir neste Teu caminho. Não somos perfeitos mesmo e as trevas nos ajudam a encobrir nossas falhas. Siga sozinho o seu “caminho de luz”. Deixe-nos em paz.
E depois que as últimas marteladas fixaram aqueles pés na cruz exclamaram:
– Agora queremos ver você sair por aí caminhando por aldeias e cidades iludindo o povo!
Por fim quando já o corpo inerte, pálido, com a cabeça pendente sobre o ombro, a lança do soldado romano aponta para o coração e num golpe violento o dilacera saindo dele água e sangue como que a dizer:
– Fique com o seu amor para si, não necessitamos dele, nem de Sua compaixão. Somos os senhores do mundo, sabemos o que queremos e para onde vamos. Não precisamos de líderes fracos, emotivos, dramáticos e lânguidos contadores de histórias. Queremos líderes destemidos, fortes, firmes, dominadores implacáveis com os inimigos que nos garanta a vitória e nos traga segurança a todo o império. Que governe com cetro de ferro. Este já temos, César. Apreciamos homens como Barrabás que não choram, nem se rendem, que morrem sorrindo, firmes, desafiando e amaldiçoando seus algozes. Gostamos de homens assim.
Enquanto isto, ao lado direito da cruz de Cristo, um homem mau, crucificado com ele, encerrava sua carreira de crimes e se rendia ao divino Rei dizendo-lhe:
– Eu sou pecador. Mereço a penalidade que estou recebendo, mas este aí é o Rei do bem, o Senhor do mundo da luz e do reino do amor.
Olhando para ele confessou:
– Eu creio. Reconheço Tua realeza e Santidade perfeita. Eu quero o Teu perdão, o Teu amor e suplico-te uma migalha da Tua graça ao entrares no Teu reino...
Lembra-te de mim!
Recebeu o passaporte para entrar naquele mesmo dia no paraíso e para lá foi junto com Ele – Seu novo amigo, seu Salvador.
Durante toda a batalha do Calvário Ele Jesus manteve-se duro como diamante para com o mal – o Império das Trevas – mas maleável como o ouro para com os penitentes.
Quando viram jorrar o sangue carmezim bradaram:
– Tu não és rei coisa nenhuma. Não possuis o sangue azul da nobreza! És plebeu como estes marginais que te cercam. És vulgar igual a eles.
Não poderia de fato ser azul o Seu sangue, mas, carmezim como o sangue de um cordeiro puro e imaculado – “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo. 1.29).
Quando porém esse sangue caiu sobre a terra, “a terra estremeceu; as rochas se partiram; os túmulos se abriram e muitos corpos dos santos ressuscitaram” (Mt. 27.51,52). A terra nunca dantes recebera um sangue de tal quilate!
Quando este sangue atingiu o inferno, suas portas se despedaçaram, os grilhões da morte se partiram e foi proclamado “liberdade aos cativos e abertura de prisão aos presos” (Lc. 4.18) e em todo o universo se ouviu:
– “Onde está, ó morte a tua vitória? Onde está, ó inferno o teu galardão? Porque o aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!” (I Cor. 15.55,56).
Pr. Rosivaldo de Araújo